sábado, 6 de outubro de 2018

A salutar ausência de um plano “B”



Conta a história que Alexandre, O Grande, quando lutava na Pérsia, mandou queimar todos os navios de sua esquadra para que seus soldados não tivessem meios de sequer pensar em retroceder na batalha. Era melhor lutar até morrer do que ser escravo dos persas, afinal de contas. Não tinha um plano B. Era vencer ou vencer. Isso foi lá pelo século 4 AC.

Bem depois, lá pelos anos 1520, um espanhol chamado Hernán Cortez conquistava o que hoje conhecemos como o México, dando um pau nos Astecas, que eram o povo local. Tu vê só, o cara foi jogar fora de casa e trouxe os três pontos! Dizem que ele também usou desse expediente: mandou atear fogo aos navios para que o exército não tivesse como voltar. Hernán acabou com o plano B.

Beira-Rio; 2018: os comandados de Odair Hellmann nos patrocinam mais uma derrota amarga diante do cambaleante Xpó, com ares de filme repetido. E filme ruim. Poxa, de novo?!
Afinal, qual é o mal de Papito? É que ele tem um plano B. A direção tem um plano B. Os jogadores têm um plano B. O Inter, ao fim e ao cabo, tem um plano (e não é a divisão do futebol brazuca) B.

O plano B do Inter, e por derivação de todos que lá trabalham, do Presidente ao Roupeiro; do Goleiro ao Ponta Esquerda; é usar o mantra da reconstrução e figurar numa posição segura e nada honrosa do campeonato. Simples. Seguro. Confortável. Factível. Realizável. Uma porção de palavras que forjam o pensamento do Inter dos últimos anos.

Quando os resultados convergiram e avançamos muito na tabela algo aconteceu que o Clube não esperava. A torcida acendeu, os ânimos mudaram e a mira passou a ser o almejado caneco de campeão nacional. Estamos na seca há muito tempo. Tempo demais.

Aí o maldito plano B entra em ação e, sorrateiro como um mágico que puxa uma toalha e espalha um maço de cartas por sobre a mesa nua, o plano B mina o time; rouba-lhe a fé; faz os jogadores entrarem em modo automático e emburrece o treinador.

O Inter e os seus acreditam que já nos entregaram mais do que podíamos querer ou pedir este ano. “Missão cumprida, seus chatos. Não sei por que aporrinham tanto!” devem pensar enquanto preenchem a papelada para a folha de pagamento.

Este é o plano B do Inter: diante do fracasso, vir ao público e dizer que já fez mais do que era esperado. Magistralmente simples. Desportivamente deplorável.

Isso faz a corda que estava esticada afrouxar, faz o pé que era de ferro numa dividida ficar molenga, faz o pique de vários metros virar um trote sem compromisso e uma marcação furiosa tal qual um vespeiro invadido, com vários camisas vermelhas contra apenas um adversário, se transformar numa marcação de compadres de cerveja, mantendo um metro de distância do portador da pelota. “Não vale dar pau, hein, seu jaguatirica?!” combinam os amigões. “Fechado!”

Se o Inter não tivesse um plano B, e o plano principal fosse sendo sempre substituído por uma meta mais ambiciosa, mais alta, como por exemplo romper a barreira do Z4, depois, consolidar na luta pelo G6, depois G4 e por fim o Caneco, nós ouviríamos entrevistas potentes e veríamos o reflexo disso em campo. Veríamos um time que teve os jogadores transformados em soldados que perderam a única chance de fugir e voltar pra casa. Um time sem navio para retornar.

Assim como fizeram Alexandre e Cortez, o Inter avançaria aos poucos e quando a hora decisiva chegasse ele diria, com voz forte como um trovão, que não há outro plano a não ser o campeão deste ano. O Inter queimaria seus navios.

Se o Clube estivesse mirando apenas a taça, e este fosse nosso único plano, o chamado plano A, nós marcharíamos para a reta final do Campeonato Brasileiro de 2018, desde aquele fatídico jogo contra a Chapecoense, como um soldado vai para a batalha sabendo que é vencer ou morrer. Sabendo que não há plano B.

O plano B e sua segurança, a tão propalada segurança que as corporações comerciais e grandes homens de negócio falam a todo momento, as estratégias que correm em paralelo aos anseios principais não se aplicam bem ao esporte. No esporte, assim talvez como nas guerras, é melhor não ter um plano B.

Rafael Mallmann.

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