São, a meu sentir, três os fundamentos de todo o time vencedor em termos de futebol. Eles são o fator técnico, o fator físico e o fator anímico ou emocional.
Se examinarmos um por um no Inter veremos que andamos falhando miseravelmente nos últimos tempos pois sempre nos falta um ou mais de um deles na hora decisiva.
Quando o Inter está com a “faca nos dentes”, normalmente alguns jogadores - senão mais da metade do time - estão em péssima fase técnica e aí a parte tática, que decorre desta última, fica uma gororoba.
Ou então, quando estamos num momento bom emocionalmente, com algumas boas partidas em sequência, confiantes portanto, o aspecto físico desanda, o time não corre, parece pesado, e lá vamos nós tropeçando (nas próprias pernas) de novo.
A combinação entre os três aspectos é bem extensa e de variadas combinações entre eles. Basta, como eu disse antes, rever os jogos do Inter para notar que em todas as nossas derrotas no mínimo um destes pilares foi negligenciado pelo próprio Inter: ou falhamos fisicamente, ou emocionalmente, ou tecnicamente. Às vezes, falhamos em mais de um aspecto simultaneamente.
Quando estamos numa boa jornada e estes fatores convergem, funcionando harmoniosamente entre si, vencemos. Podem notar. O time está com ganas de vencer, e os atletas cheios de confiança, os jogadores estão numa boa jornada técnica, acertando passes e jogadas, e a parte tática por via de consequência também vai bem e o time já domina o adversário. Por fim, os jogadores estão fisicamente aptos, fortes e dispostos, e o time suplanta o rival na força e nos pulmões. Pode conferir o placar. Te asseguro que nos sagramos vencedores.
Onde quero chegar com isso? É dizer que o desequilíbrio do Inter nesta reta final deve ser criteriosamente analisado pela comissão técnica e pela comissão permanente do Clube, enfim, pelos caras responsáveis por entender os números e indicadores por trás do jogo do campo, pois se 2018 está praticamente no fim e, no frigir dos ovos, ainda estamos lutando pelo caneco nacional, o ano de 2019 com uma Libertadores a caminho, Copa do Brasil com uma grana violenta em jogo e mais um Brasileirão já está prestes a começar. E será um ano cheio. A torcida cobrará muito por bons desempenhos. E com razão.
Contratar de acordo com o perfil ou característica que falte ao time nestes momentos de baixa ou dificuldades é o segredo para montar um grupo campeão.
Se tivermos, nos diagnósticos, dados que revelam que tal ou qual jogador entra em declínio físico a partir de tantas partidas e ele é considerado imprescindível para o time, precisa haver uma reposição para que o cara saia, se recupere por alguns jogos, renove seu físico e seja reintegrado. É como um gráfico no qual sujeito vai numa curva ascendente até que atinja o auge. Depois, quando começar a cair, é preciso sacá-lo, recuperá-lo e reintegrá-lo. Planejamento.
Se, por outro lado, os dados nos mostram que tal atleta sucumbe emocionalmente quando sob pressão é preciso entender se vale a pena mantê-lo no grupo ou negociá-lo por um mais apto animicamente. Vou trazer um exemplo para ilustrar: Elder Granja era muito mais jogador do que o Ceará. Todavia, sempre que o jogo encrespava, ele apagava e se entregava. Já o Ceará, com um temperamento muito mais competitivo, crescia nestes confrontos. No fim, ele, Ceará, entregava muito mais à equipe do que seu companheiro de time Elder.
E, por fim, por exemplo, se as leituras do grupo de jogadores demonstram que ao longo da temporada este ou aquele jogador entregou muito pouco tecnicamente, é hora da dispensa. É preciso estabelecer uma nota de corte a respeito do que seria uma padrão técnico mínimo aceitável para vestir a camisa colorada. Um jogador que não atingisse esse número, viraria moeda de troca ou, simplesmente, mais uma dispensa.
Eu afirmo que se pode corrigir um jogador e aperfeiçoar suas virtudes desde que o ambiente coletivo no qual ele esteja inserido tenha a capacidade de retirar do atleta o máximo em termos técnicos, físicos e anímicos que ele possa entregar. É o caso do famoso jogador comum que num time ajustado se destaca e apresenta alta regularidade.
Várias vezes assistimos jogadores que foram bem numa temporada em um time encaixado trocarem de clube e afundarem justamente porque o padrão coletivo no qual eles individualmente foram colocados agora não proporcionava-lhes desenvolverem seu melhor futebol. E aí, o cara é ruim? Não necessariamente. Era um craque antes? Também não.
Se o Inter fizer esta avaliação corretamente, contratar pontualmente, dispensar certas peças e promover outras, poderemos ter um grande ano. Mas precisa começar já.
Rafael Mallmann.